Consultamos o mercado? Segunda parte

Consultamos o mercado? Segunda parte

Começo esta segunda parte com uma questão: “Onde param os ditos 30 e tal mil imóveis que, supostamente, existiam antes da chegada da malfadada crise?”. Até hoje, nenhum especialista conseguiu explicar-me, cabalmente, o paradeiro destes imóveis. Acredito que o número fosse um pouco exagerado, talvez, mas ainda assim, com a construção que existia e o (des)regulamento então vigente, creio que não seria assim tão exagerado. Sucede porém que, perante a escassez atual, os tais imóveis estariam agora disponíveis para comercialização, o que não sucede. Portanto, impõe-se a dúvida e a pergunta, o que terá sucedido? Após escutar várias versões e teorias, observando o mercado, conhecendo razoavelmente investidores, proprietários e clientes, o cenário deste “thriller imobiliário”, cujo guião envolve o desaparecimento, em contornos misteriosos, de imóveis, poderá ser o seguinte: Os construtores deixaram de ter acesso facilitado ao crédito, então igualmente muito fácil, pelo que, desistiram de construir. Como é sabido, algumas empresas voltaram-se para obras públicas, outras apostaram na intercionalização e outras, enfim, simplesmente deixaram de existir. Entretanto, durante o tempo agudo da crise, alguns investidores, entendendo que as taxas de juro bancárias eram (o panorama ainda se mantém) baixas, e aproveitando a baixa de preços dos imóveis, decidiram apostar na aquisição de património, comprando barato. Por esta altura, creio que se tenham realizado excelentes negócios, sobretudo na perspetiva de quem comprou.

A crise foi afrouxando de intensidade, as famílias voltaram a ter alguma (pequena) folga na carteira e, vendo que o dinheiro em conta não crescia, viram na aquisição de património uma solução interessante. Por isso, e nesse limbo de saída da crise, parece-me que ter-se-ão realizado bastantes negócios interessantes. A malfadada crise foi, simultaneamente, a razão do desinvestimento na construção, mas também motivo para a concretização de inúmeros negócios levados a cabo, penso eu, sobretudo por particulares e pequenos investidores. A crise, esse fantasma cíclico da nossa história terá sido a razão do desaparecimento dos imóveis que outrora terão existido para comercialização.

E chegamos aos dias de hoje. A economia, ainda que mal sarada do aperto que sofreu durante a crise, a crescer relativamente bem, com resquícios de uma insegurança mal disfarçada, motiva, de forma tímida, ao investimento. Todavia, e no tocante ao mercado imobiliário, estamos perante um cenário, quiçá, estranho, uma vez que existe uma procura muito acentuada, mas sem uma oferta consolidada, isto é, não existem imóveis nem construção que abarque e satisfaça a procura. A construção vai dando sinais de ressuscitar, mas em ritmo muito lento, demasiado lento. Efetivamente, quem apostou em investir na construção nos últimos dois anos não tem mãos a medir e terá tudo vendido, com prazos de entrega, previstos para 2019-2020, com preços inflacionados pela procura quase desmesurada. Portanto, o ramo imobiliário vive um forte incremento nos imóveis usados, remodelados, angariados junto de clientes particulares que, por sua vez, querem vender, para posteriormente adquirirem imóveis novos, para habitação própria ou para colocarem no mercado de arrendamento.

Neste panorama, os construtores, bem como muitos clientes, mudaram de paradigma em relação às imobiliárias.

Será esse o tema da minha próxima crónica.

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