Depois do boom, o mercado imobiliário começa a encolher. É preciso adaptar a oferta às necessidades do mercado, sublinha Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP).
Que balanço faz da atividade imobiliária em 2019?
Apesar de se ter começado a sentir um ligeiro arrefecimento do mercado, foi um ano positivo. De acordo com os dados oficiais do Gabinete de Estudos da APEMIP, no terceiro trimestre de 2019 venderam-se 45.830 alojamentos familiares, um aumento de 7,6% face ao trimestre anterior. Analisando o período homólogo, regista-se um ligeiro decréscimo de 0,2%. Por outro lado, os valores de venda de alojamentos familiares, registaram um aumento de 6,6% face ao trimestre anterior e de 3%, face a igual período do ano anterior. De janeiro a setembro foram transacionadas 132 246 casas, o que corresponde a uma variação homóloga quase inexistente. Em termos de valores de venda, houve um aumento de 4,3%.
Quais são as principais expetativas da APEMIP para 2020?
É expectável que se assista a um arrefecimento do mercado, motivado pela falta de stock, que impede que se dê uma resposta efetiva à procura existente, tanto no mercado de compra e venda como no arrendamento. Apesar de haver casas vazias, o facto de não estarem no mercado ou não irem ao encontro da procura, faz com que não possam ser consideradas no stock existente. O pouco que há e que está a ser comercializado, é muitas vezes vendido a preços mais elevados do que seria desejável e suportável pelos jovens e pela classe média. O aumento de preços acaba por justificar o arrefecimento, pois mesmo quem tem uma maior capacidade financeira e quer investir, acaba por se retrair devido aos elevados preços.
Que mudanças podem surgir?
Tendo em conta a dificuldade que os jovens e famílias portugueses enfrentam no acesso ao crédito à habitação, começará a haver uma tendência de aumento da procura no mercado de arrendamento urbano, que infelizmente não tem condições para dar resposta, uma vez que também não tem oferta suficiente, e a pouca que há não está ao seu alcance. A principal mudança prender-se-á com os novos incentivos ao arrendamento acessível.
O que gostaria de ver acontecer no mercado imobiliário em 2020?
Gostaria que os jovens e famílias das classes média e média baixa conseguissem encontrar respostas às suas necessidades habitacionais. O principal desafio continua a ser a necessidade de introduzir oferta a preços acessíveis, o que se torna cada vez mais difícil, tendo em conta também os preços da construção, que impedem que os ativos possam ser comercializados a preços que os jovens e famílias consigam pagar.
A resposta poderá passar por parcerias público-privadas, entre autarquias e construtores, com bolsas de terrenos e garantias de recolocação de imóveis no mercado a preços acessíveis, ou pela tentativa de procurar no mercado externo, potenciais construtoras que tenham vontade de investir em Portugal, construindo em escala, e garantindo assim o aumento da oferta a valores acessíveis.